viver numa vida que existe
como a xereca da gracyanne barbosa me fez repensar a minha relação com as redes sociais
eu estava dentro do carro a caminho de um lindo parque arborizado quando abri o twitter e dei de cara com a xereca marombada da gracyanne barbosa. simples assim.
pois é, eu não sei se você sabe, querido leitor, mas vazaram um vídeo íntimo da nossa futura ex-bbb gracyanne barbosa. e eu vi esse vídeo sem nem ter a chance de me preparar psicologicamente para tal. foi assim, de graça, no meio do meu domingo perfeito.
e aí, eu me dei conta de que num minuto eu posso estar no carro, fazendo carinho no meu cachorro, ouvindo uma música legal, olhando o céu azul, e no minuto seguinte estar vendo a gracyanne barbosa hiper mega bronzeada tocando uma siririca. essa é a magia de se ter o mundo nas mãos.
e, assim, o meu problema não é nem com esse tipo de conteúdo especificamente, mas sim com todos os tipos de conteúdos do mundo e, é claro, com o fato de eu ter a necessidade de abrir uma rede social no meio de um momento agradável do meu dia pra ver qualquer coisa que não seja a merda da vida real que está acontecendo bem na minha frente. isso está me enlouquecendo.
estou cansada
desde que voltei a trabalhar 100% home office, sinto que estou muito mais viciada em celular. é deprimente a quantidade de tempo que eu passo com a cara enfiada em telas - seja uma tela grande, como a do notebook, com meu trabalho que não me dá paz, seja uma tela pequena, com vídeos curtos e fofocas que me hipnotizam.
por isso, comecei a sentir que eu não fazia nada da vida além de digitar e scrollar uma tela, até porque a quantidade de tempo que eu ficava offline era muito desproporcional (basicamente, só não estava com o celular na mão enquanto tomava banho e dormia).
numa tentativa de tornar a coisa toda um pouco mais real e pensar em soluções pro meu problema, eu passei a anotar o meu tempo de tela diariamente e o resultado foi desesperador. eu já cheguei a passar 7h nas redes sociais num único dia.
agora, pra uma pessoa que trabalha e estuda passar 7h no celular você imagina o tanto de negligência e procrastinação que tem aí no meio, não é mesmo? muitas coisas são deixadas pra trás quando você passa quase o seu dia inteiro enfurnada em telas.
enfim, a parada foi que, por causa dessas anotações, eu percebi um padrão: sempre que eu passava tempo demais no celular, eu tava tentando fugir de alguma coisa, seja um pensamento chato, um pepino no trabalho ou um problema na minha vida pessoal. sempre tinha uma grande angústia envolvida.
e faz muito sentido, pois o celular me anestesia como nada no mundo é capaz de fazer. então, quando eu tô muito deprimida, ansiosa ou algo assim, abrir o tiktok e ver uma porção de vídeos idiotas me faz esquecer de absolutamente qualquer coisa. ou seja, ficou muito claro pra mim que o uso de celular tem a ver com o jeito que eu lido com os meus problemas. o que tornou tudo muito mais difícil.
eu quero fazer ou eu quero mostrar?
mas é claro que o vício em celular é um buraco bem mais fundo e há vários outros motivos que explicam essa merda toda, um deles pode ser essa necessidade de ser visto.
veja bem, desde 2022 eu crio conteúdo pras redes sociais, o que não me tornou famosa, muito menos rica, mas me fez construir uma pequena e maravilhosa comunidade na internet. ou seja, eu tenho sim uma dezena de meninas (principalmente) que me acompanham, me observam e se inspiram em mim.
essas pessoas, de alguma forma, se interessam genuinamente pelo que estou fazendo, consumindo ou criando. e eu notei que, por conta disso, várias vezes eu só quero fazer, consumir ou criar algo pra poder mostrar nas redes sociais. para que essas pessoas vejam e continuem me acompanhando, me observando e se inspirando em mim, pra que elas continuem me achando interessante.
acontece que, nesse looping de fazer algo apenas pra produzir conteúdo eu acabo tornando a minha vida um PORRE. sim, um porre, não tem como alguém me convencer de que não é um porre ficar sentindo uma culpa patética toda vez que não estou transformando minha própria vida em conteúdo pras mídias.
enfim, a partir de toda essa reflexão, eu comecei a me perguntar “eu realmente quero fazer isso ou eu só quero postar?”. eu quero andar de bicicleta? eu quero passar blush pra ir pra praia? eu quero terminar de ler esse livro hoje? eu quero comer nesse lugar?
a resposta sendo não, eu não faço mais.
e é um exercício que vale não só para pseudo criadores de conteúdo, assim como eu, mas pra qualquer um que, assim como eu, percebe em si essa necessidade de mostrar tudo que faz.
aviso: é meio vergonhoso pensar nisso, pois assumir que quer fazer tal coisa apenas pra postar no story é muito degradante, mas não desista, o primeiro passo é aceitar a derrota.
então, estou curada das redes sociais?
óbvio que não, porra. eu continuo sendo uma pseudo criadora de conteúdo, continuo sendo uma estudante de jornalismo que precisa se manter atualizada, continuo tendo essa necessidade esquisita de mostrar minha vida e de ver a vida alheia, continuo sendo social media, continuo sendo uma fodida.
não há um futuro próximo em que eu consiga me desprender completamente das redes sociais, mas eu ainda quero (pelo menos) sentir que tenho algum domínio sobre minhas próprias ações e, dia após dia, melhorar minha relação com as telas e com o mundo moderno de uma maneira geral.
resumindo: não há nada nesse mundo que me faça desistir de viver uma vida que existe.
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as três frases da semana
eu finalmente terminei “oração pra desaparecer”, livro da socorro acioli. eu curti muito a escrita da autora, mas essas histórias meio místicas realmente não me pegam (nem na literatura, nem no cinema, nem em nenhum outro lugar), então a leitura não engatou pra mim.
mas, por outro lado, eu estava cansada de desistir de livros e decidi que terminar esse era uma questão de honra, então terminei e trago aqui três frases marcantes dessa leitura pra mim:
“viver é sempre isso, fazer o que se pode.”
“de tanto encher meu coração com a beleza, esqueci de sofrer.”
“a única coisa que eu tenho é o resto da vida.”
até a próxima :)
Comecei a usar o aplicativo a pouquíssimo tempo e foi por conta de que você apareceu na minha for you do tiktok, uma das melhores coisas que já fiz sinceramente ksksksks
Vou fazer 18 daqui uns meses e depois de refletir muito, senti que precisava (a um bom tempo) substituir muito essa minha necessidade de ficar o dia com a tela no celular com coisas que vão REALMENTE fazer diferença pra minha vida. Esse texto conseguiu abrir mais minha ideia sobre isso então agradeço muito mesmo!
nunca tinha pensado por essa perspectiva e me identifiquei bastante! Fujo muito de coisas que não quero resolver naquele momento (nunca quero) Obrigada pelo texto sensível