“Amiga, não vai mudar nada, você só vai sair dos 20 e poucos e ir pros 20 e muitos”, disse minha melhor amiga, Stephany, numa ligação de vídeo em que eu desabafava sobre o quanto era assustador pensar que, em breve, faria 25 anos.
Bom, ela tava certa, eu fui pro lado dos 20 e muitos no último dia 1°de setembro e nada mudou mesmo: a passagem do tempo me abalou igual e foi um aniversário dramático (assim como todos os outros desde que me conheço por gente).
Para ilustrar, antes de continuar, veja um registro das minhas primeiras horas com 25:

Essa fase, a dos 20 e poucos anos (ou 20 e muitos), é a mais estranha que eu já passei na vida (e olha que eu tive uma adolescência que oscilou entre igreja católica, One Direction, baile funk no Paraisópolis e automutilação). Isso porque, na casa dos 20, todo mundo parece ocupado demais procurando incessantemente por um um grande significado que dê sentido a tudo isso – e aí você sente um pouco de culpa e fica tentando procurar também.
Além disso, ao seu redor, todo mundo parece estar dando um grande passo (a pessoa mais maluca que você conheceu na escola já está no segundo filho). E, especialmente hoje em dia, em que é possível acompanhar o que qualquer pessoa faz da vida em tempo real, a comparação é inevitável e acaba surgindo uma falsa impressão de que só você continua meio perdida.
Com esse fácil acesso à falsa realidade do outro, a pressão se intensifica e o seu subconsciente se torna um turbilhão de 'deverias': acho que deveria começar natação, engravidar, alugar um apartamento em Pinheiros, adotar um shih tzu, casar, ir morar na Austrália, comprar um imóvel na planta, correr uma maratona, abrir um negócio…
Ou seja, você começa a achar que precisa tomar alguma decisão, seja lá sobre o quê. E, pra piorar, parece que essa decisão ainda precisa ser certeira, pois você já tem 25 e, nessa idade, não dá mais pra errar.
A sensação, no fim, é a de que acabou o período de teste. Você não pode mais experimentar, tentar ou falhar. Chegamos no limite: é a última hora certa pra fazer qualquer coisa na vida.
Bom, é aí que o caos se instala: você começa a transformar sua existência numa corrida frenética por um controle que nunca teve ou terá. E, na busca por certezas, se fecha às possibilidades, atrapalhando o fluxo natural do tempo e cometendo o pecado de esquecer que ainda tem 20 e poucos anos e a vida tá só começando.
A crise dos 30
Antes de fazer aniversário, ainda com 24, no auge do meu inferno astral, eu me vi obrigada a pensar a respeito do porquê eu sentia TANTA angústia ao pensar em fazer 25. Mexi num buraco tão fundo que achei, num cantinho escuro e empoeirado, um velho conhecido: o medo de envelhecer.
Ainda que eu ache brega ter medo de ficar velho, só passava pela minha cabeça que a cada minuto, depois dos 25, eu estaria mais próxima da minha versão de 30 anos do que da minha versão de 20. E não sei porque isso me deu tanto arrepio na espinha.
A última vez que senti esse medo foi no meu aniversário de 18 anos, eu não queria por nada ficar mais velha que isso. O irônico é que, hoje em dia, eu me sinto uma pessoa bem mais legal do que era quando tinha 18. Consigo, inclusive, listar uma série de coisas em mim que gosto mais agora, por exemplo:
Eu sou uma amiga bem melhor do que era quanto tinha 18 anos. Naquela idade, eu só sabia olhar pro meu próprio nariz e tinha atitudes horrorosas com pessoas que realmente me queriam bem.
Eu aprendi a não me colocar em lugares desconfortáveis por medo da solidão e ligo muito menos para o que as pessoas pensam de mim. Aos 18, eu fazia tudo pra me encaixar em todos os lugares e pra agradar todas as pessoas, e isso era cansativo e muito triste.
Agora, aos 25, eu tenho unhas lindas. Com 18 anos, eu roía todas as minhas unhas até o talo e meu dedão parecia um pau com fimose (desculpa, não consegui pensar em outro exemplo).
Hoje em dia, eu me sinto muito bem com a minha personalidade. Quando eu era mais nova, me conhecia tão pouco que me odiava. Muito triste, porque sou ótima e queria ter descoberto isso antes.
Por reconhecer que melhoro na medida em que envelheço, é que me mantenho otimista, apesar de tudo. Me esforço pra não esquecer que, enquanto eu viver, sempre vão existir novas possibilidades, novas coisas pra se descobrir e se fazer, não importa o quanto eu envelheça.
Me lembrei de uma coisa
Há muito tempo atrás, eu tive uma crise existencial por algo que não vou lembrar agora, mas que foi o suficiente pra me fazer chorar no escritório. E aí, um colega de trabalho muito querido veio me consolar e disse algo que nunca esqueci:
“ale, nem adianta chorar, a vida só fica boa mesmo depois dos 30”
Eu lembro muito disso porque tinha 17 anos e, no impulso, chorei mais, enquanto respondia: “meu deus, então minha vida vai demorar muito pra ficar boa”. Mas, veja só, agora eu tenho 25 anos e estou mais próxima dos 30 do que dos 17. Ou seja, seguindo essa lógica, minha vida está cada vez mais perto de ficar boa.
E envelhecer já não me parece tão ruim assim.
Enquanto escrevia esse texto, minha mãe escutava música na cozinha. Quando terminei de escrever, tocava “Clareou”, do Diogo Nogueira. Aqui vai um trecho:
“Levante a cabeça, amigo, a vida não é tão ruim
Um dia a gente perde
Mas nem sempre o jogo é assim
Pra tudo tem um jeito
E se não teve jeito ainda não chegou ao fim.”
Até a próxima! <3
Ale, você é demais!! Sério mesmo, eu sigo dizendo que parece que você e eu compartilhamos uma linha de vivências e memórias, porque você sempre parece escrever o que eu sinto e não sei se acho isso incrível ou se fico meio chateada, porque não queria que você tivesse uma cabeça como a minha o tempo todo, porque isso sufoca a existência. Mas enfim eu acabei de completar meus 25 anos, no último dia 25 de outubro. 25 anos... Dá pra imaginar Ale? Claro que dá você também completou 25 anos, meus parabéns inclusive. Mas o que aconteceu comigo é que eu estava surtando uma semana antes do meu aniversário, como acontece todos os anos aliás, e como você tentei entre as obrigações da vida adulta entender o porquê sempre era assim e percebi nesse último ano até chegar aqui que eu nunca me imaginei com 25 anos. Quanto eu tinha 15 eu sabia que iria morrer antes dos 20 e não fazia sentido contemplar um futuro que eu sabia com muita convicção que não teria. Quando descobri isso eu fiquei tentando entender porque, por que Ale,uma adolescente daria uma previsão tão fúnebre pra si mesma? Tive uma infância e adolescência difícil com muitos problemas de imagem e familiares e nunca percebi que o quanto isso tinha me marcado até me afastar dessa bolha de ar viciado e completando 25 anos e olhando pra trás, pra todas as cobranças e o peso de não ser boa e perfeita o suficiente para ninguém eu finalmente descobri que está tudo bem, eu não preciso correr, eu não preciso ser perfeita pra ninguém e nem preciso provar nada enquanto corro contra o tempo de forma tão desesperada, tá tudo bem parar e respirar fundo enquanto aproveito a paisagem no caminho e que bom Ale, que bom mesmo que você também consegue se sentir assim agora, pode não durar o tempo todo, mas a construção precisa começar de algum lugar. Feliz 25 anos! Feliz vida!
Alê, que coisa gostosa é poder te ler. Eu também fiz 25 anos em setembro deste ano, no dia 06. Parabéns pra nós. Adorei o texto, pra mim este ano foi, depois de muito tempo, um aniversário feliz de verdade. Eu trabalho há 5 anos (digo, esse tempo todo eu tive condições financeiras pra fazer o que eu quisesse no meu dia) e nunca era feliz no meu dia porque sempre esperava que as pessoas fizessem festas, surpresas e coisas do tipo, este ano resolvi eu mesma fazer uma festinha, uma espécie de comemoração de independência, estar sozinha não me assuta mais, ter poucos amigos não me assusta mais, fazer uma festa pra mim, com todos os detalhes escolhidos por mim mesma não me assusta mais. Que sejamos felizes aos 25, 26, 30, 40, 50... <3