escrevi um texto inteiro pra dizer que não escrevi nada
um desabafo sobre a configuração atual da minha vida e coisa e tal
essa é a newsletter semanal mundinho ale br, o diário virtual de uma garota que nunca superou nada na vida e tem uma relação complexa com exatamente todas as coisas do mundo. alessandra santos, a garota em questão, além de ser uma escritora profissional de diários, é mais ou menos uma artista, quase uma jornalista e, às vezes, uma tiktoker. também tem dificuldades de se autodenominar. ela se concentra apenas em viver dias em sequência dentro de seu mundinho - o ale br. se você gosta dessa newsletter, por favor, considere se tornar um apoiador pago e garantir que a ale br continue viva. são apenas R$5 por mês. você ganha uma edição especial mensal com um monte de indicações legais e o meu amor eterno. obrigada.
Essa newsletter está sendo escrita dentro de um ônibus. Estou voltando do trabalho pra casa. A última semana foi uma loucura e não tive tempo (nem cabeça) pra trabalhar nos textos sobre coisas bonitas e íntimas que eu costumo compartilhar aqui. Fiquei tentada a não publicar, fiquei tentada até a dar um tempo de escrever a newsletter, mas odeio falhar com esse projeto que é um reflexo tão grande de quem eu sou, então decidi escrever um texto inteiro pra dizer o quanto eu não escrevi nada.
Quem leu a última edição sabe que eu peguei duas semanas de férias do trabalho pra dar uma espairecida, justamente porque sabia que o retorno seria intenso. Chegando de viagem, mal tive tempo de raciocinar, já voltei ao escritório. Agora, com um desafio um pouco maior, pois fui efetivada no estágio e passei a ser CLT. Trabalhar 8h por dia ao invés de 6h não é tão atraente, mas eu sou muito fã de direito trabalhista e, de uma forma ou de outra, estou feliz com meu novo desafio profissional. A título de curiosidade, eu fui promovida para analista de marketing jr numa empresa de educação para executivos.
E eu gosto dessa minha nova fase profissional, principalmente porque nunca imaginei que as coisas aconteceriam do jeito que estão acontecendo. Primeiro porque sou estudante de jornalismo e falei desde o primeiro semestre que nunca trabalharia com marketing e… olha aqui onde estou. Além disso, pra caber nesse espaço, nessa empresa atual, que é o meu segundo emprego da vida, eu precisei me reinventar. E, por causa disso, aprendi muito sobre o mundo corporativo e sobre mim também. Vim de uma empresa muito tradicional, antiga, clássica, com uma cultura muito diferente da empresa em que trabalho agora, que só tem 10 anos de mercado, começou como startup, trabalha temas como tecnologia, inovação e essas coisas todas. Então, quando cheguei nessa nova empresa, tive muita dificuldade de me adaptar, por isso é tão surpreendente que eu tenha me tornado alguém que se sente tão à vontade de assumir um novo desafio profissional dentro dela. E isso tudo também me ensina que eu posso ser versões de mim mesma que eu ainda nem imagino.
Mas, é claro, a vida não é um morango… E nada é tão simples.
Meu trabalho é presencial, longe de casa, fico por volta de 4h por dia no transporte público, faço faculdade à noite, estou no último semestre e trabalhando num TCC cuja pesquisa tem sido muito desafiadora. Além disso, tem toda a parte da sociabilidade, né? Tenho uma família, um relacionamento, amigos, três gatos e um cachorro. Ou seja, uma série de relações que exigem presença e cuidado. E, claro, todas as tarefas básicas de manutenção da vida que, por mais que a gente esqueça, também levam tempo.
Agora, tudo que eu consigo pensar olhando pra minha nova rotina é: qual o espaço da arte aqui?
Eu escrevi, há alguns dias, uma colagem com a frase: tenho medo que o mundo tire minha capacidade de criar. E era disso que eu estava falando. Tenho medo de que minhas obrigações suguem minha alma a ponto de não me restar tempo, criatividade ou vontade de escrever minha newsletter, trabalhar nas minhas colagens autorais, nos meus cadernos, nos meus vídeos. E a noção de que o momento atual da minha vida pode me afastar um pouco desse fazer artístico me desespera porque além dessa ser a coisa que eu mais gosto de fazer no mundo, também é o que me ajuda a lidar com o peso da complexidade humana, a manter meus pés no chão. Por isso, quando notei que a rotina atual vai ficar muito puxada e cogitei dar um tempo da newsletter, fiquei muito aflita e não parei de tentar achar soluções pra situação.
Até que a solução veio. Há alguns minutos, inclusive, quando comentei com uma amiga: “acho que não vai ter newsletter hoje, tipo, eu até tentei escrever sobre coisas legais e tal, mas não consegui, não estou com cabeça”. E ela me respondeu o óbvio: então os temas tem que mudar, né?
Claro que é. Tá aí. A newsletter mundinho ale br nasceu pra ser o meu diário virtual e faz todo sentido que ela se transforme conforme o mundinho da ale-br vai se transformando. É por isso que estou escrevendo um texto no celular mesmo que eu só goste de escrever no computador ou no caderno e escrevendo no transporte público mesmo que eu só goste de escrever em lugares silenciosos, por exemplo. Por que a minha vida está mudando, estou dentro de uma rotina nova, que também é temporária como tudo na vida, mas que exige adaptação. E se eu não conseguir levá-los comigo entre uma mudança e outra, vou acabar deixando-os pra trás. E, deixando-os pra trás, me deixo pra trás também.
O que tudo isso quer dizer, afinal? Que a newsletter vai continuar existindo e sendo o que ela nasceu pra ser: o diário virtual de uma garota que nunca superou nada na vida e tem uma relação complexa com exatamente todas as coisas do mundo. E a gente vai descobrindo juntos o que isso significa, porque eu também não sei. Acho que nunca soube.
Paciência.
Muito obrigada por ler até aqui. E até semana que vem.




Ainda bem que escreveu mais essa🤍
Faz todo o sentido a News acompanhar o seu mundo real pq aqui é um fragmento do q acontece e do q vc sente pra mostrar e tbm criar, até você escrevendo sobre o “nada” é uma coisa bonita, só continue 🤍